Crítica: Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania

Produção peca ao ampliar escopo da trama para fortalecer presença Kang o Conquistador no MCU

3/5
Oz
Data de publicação.
31/05/2023
6 min
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Opinião
Contém Spoiler

Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania é o terceiro filme da franquia do diminuto super-herói da Marvel Comics.

Dirigido por Peyton Reed (O Mandaloriano, Sim, Senhor), Quantumania contou com o retorno de Paul Rudd (As Vantagens de Ser Invisível), Evangeline Lilly (Lost, O Hobbit: A Desolação de Smaug), Michael Douglas (A Sombra e a Escuridão), Michelle Pfeiffer (Mãe!), Corey Stoll (House of Cards) e Randall Park (WandaVision). Debutaram na franquia Jonathan Majors (Lovecraft Country), Kathryn Newton (Big Little Lies), Bill Murray (Caça-Fantasmas), Katy M. O’Brian (O Mandaloriano) e William Jackson Harper (O Bom Lugar).

A primeira coisa que se destacou ao término do filme foi o fato de que sua trama seguiu um caminho diametralmente oposto a trama das outras duas obras da franquia.

Em Homem-Formiga (Ant-Man, 2015) Scott Lang recebe o traje do Dr. Hank Pym para ajudá-lo em um roubo na sede da empresa que costumava comandar. Já Homem-Formiga e a Vespa (Ant-Man and the Wasp, 2018) aborda a tentativa do Dr. Pym de resgatar sua esposa, Janet Van Dyne, que estava presa no reino quântico há 30 anos.

Ambas as obras possuem algo em comum: um escopo mais intimista, familiar.

Quantumania é maior, e isso não é necessariamente uma coisa boa.

O reino quântico se tornou basicamente uma cartola de mágico: quando o roteiro precisa, qualquer coisa pode ser puxada dele. Completamente reescrito, agora o reino quântico não é mais um lugar amorfo repleto de atalhos entre o tempo e o espaço. É um universo dentro de um universo, relativamente similar ao nosso, não só com vida microscópica como pensávamos, mas com povos com estruturas sociais complexas, com vida em todas as formas possíveis e impossíveis de existir.

Sabendo de tudo o que o reino quântico é, e como essas informações revolucionariam a compreensão do universo e, principalmente, do trabalho de seu marido Dr. Pym, Janet opta por não contar nada do que aconteceu em sua vida durante os 30 anos que passou presa.

Fica difícil acreditar que esse não seria o primeiríssimo tópico abordado pelo casal após seu longo tempo separado.

Mesmo após serem sugados para o reino quântico (e eu abordarei novamente esse assunto posteriormente), Janet insiste em esconder informações cruciais que podem comprometer a segurança de seus familiares com a justificativa de estar preocupada com a segurança de seus familiares.

Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania não é Avatar. Exatamente por esse motivo ambientar 95% do filme no reino quântico não foi uma boa ideia. A ambientação é boa, mas não o suficiente para esquecermos totalmente que são gráficos tridimensionais sobrepostos em tela verde. Aquela sensação incômoda de que falta alguma coisa não vai embora.

Uma menção desonrosa para as atuações de Corey Stoll e Katy M. O’Brian que interpretam M.O.D.O.K. e Jentora, repectivamente.

O roteiro é repleto de falhas, algumas são relativamente toleráveis, outras não.

Kang está iniciando sua máquina para levar todo seu exército para fora do reino quântico. Nesse momento Cassie corta a trasmissão de Kang e convoca todo o povo, que já havia sido acossado por Kang, a invadir a fortaleza para lutar por… ? Ora, Kang está partindo do reino quântico para sempre. As motivações do grupo de heróis e do povo do reino quântico não estão alinhadas. Enquanto os heróis lutam para derrotar Kang e impedi-lo de sair do reino quântico, o povo do local quer simplesmente se livrar de sua presença. Cassie inadvertidamente causa a morte de centenas de pessoas.

Falando em Cassie, é preciso mencionar a sonda que ela construiu e que acabou causando a ida do grupo para o reino quântico. O Equipamento é, conforme descrito no próprio filme, uma sonda. Um satélite. Um satélite não é uma máquina de tele-transporte ou um portal para outra dimensão.

Além disso, ela nunca foi descrita como um personagem genial no MCU, porém, como foi feito com o reino quântico, ela também foi reescrita conforme as necessidades do roteiro ao ponto de criar uma tecnologia que beira o sobrenatural.

Agora, tirando do caminho essas pequenas falhas toleráveis, é preciso falar sobre duas falhas imperdoáveis do roteiro:

Se M.O.D.O.K conseguiu trazer os 5 heróis da nossa realidade para o reino quântico usando o telescópio “mágico” de Cassie, por que ele não fez o inverso e transportou ele e Kang do reino quântico para a nossa realidade?

Além disso, Kang estava preso no reino quântico porque Janet havia transformado o núcleo energético de sua nave em algo gigante, impossível de ser utilizado. Por esse motivo, Kang precisava da tecnologia de miniaturização do Dr. Pym para trazer seu equipamento ao tamanho original. Mais um problema que poderia ter sido resolvido por M.O.D.O.K., mais conhecido pelos íntimos da franquia como Darren Cross, que no primeiro filme já havia obtido êxito em sua própria tecnologia de miniaturização.

Essas são sem dúvida as maiores falhas do roteiro, nos oferecendo de bandeja a solução dos problemas do vilão de duas formas diferentes.

Já no final do filme, Janet consegue usar o núcleo energético da nave de Kang para criar um portal de volta para a nossa realidade. Todos atravessam menos Scott, que é impedido por Kang.

Kang agora tem a tão almejada oportunidade de sair do reino quântico a 2 metros de distância, mas decide fazer uma seção de sparring com Scott.

O núcleo energético é destruído. Kang derrotado. Scott e Hope agora estão presos no reino quântico… mas não por muito tempo. Cassie, que agora mais parece uma mistura de Tony Stark com Dr. Estranho, consegue recriar sozinha o portal com seu telescópio “mágico”, trazendo-os de volta.

Apesar disso, o filme é sim um blockbuster, tem seus méritos, mas de fato deixa muito a desejar. Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania é mais uma das muitas bolas fora produzidas no cinema pela Marvel nessas sofríveis últimas duas fases.

Vocabulário
Termo bastante utilizado na indústria do cinema para designar filmes com narrativa e escala de produção exorbitantes, geralmente direcionados a um grande público e cujo rendimento seja igualmente gigantesco. Alguns exemplos de blockbusters: Transformers, Star Wars, Piratas do Caribe e Senhor dos Anéis.
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26/01/2024