Crítica: Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo

O longa de Zack Snyder é uma colcha de retalhos mal costurada, sem alma e sem sentido

1/5
Oz
Data de publicação.
02/01/2024
10 min
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Opinião
Contém Spoiler

Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo (Rebel Moon – Part One: A Child of Fire) é um filme dirigido por Zack Snyder (300) para a Netflix que nasceu originalmente de uma ideia do diretor para o universo de Star Wars, mas que foi recusada pelas Lucasfilm.

Desde então a adaptação de Snyder sofreu alterações para sua nova casa e foi dividida em 2 filmes.

O elenco principal do longa conta com Soufia Boutella (A Múmia), Djimon Hounsou (Gladiador), Michiel Huisman (Game of Thrones), Bae Doona (Cloud Atlas), Ray Fisher (Liga da Justiça), Charlie Hunnam (Círculo de Fogo), Anthony Hopkins (Westworld), Staz Nair (Game of Thrones), Ed Skrein (Deadpool) e Fra Fee (Gavião Arqueiro).

 O longa acompanha a história de Kora (Boutella), que é uma forasteira em um pacato vilarejo agrícola localizado em uma lua distante, quando as forças militares do Mundo-Mãe ameaçam a sobrevivência dos moradores do vilarejo, Kora parte em busca de ajuda para lutar contra essa ameaça.

Fica difícil desassociar Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo de Star Wars, está tudo alí. Temos rebeldes lutando contra um império, star destroyer, sabre de luz, temos um Darth Vader voltando da morte (Atticus, personagem de Ed Skrein) e até mesmo um Han Solo (Kai, personagem de Charlie Hunnam).

O problema não é nem o CONTROL+C, CONTROL+V, afinal, Star Wars (trilogia original) é e sempre um clássico irretocável do sci-fi e da aventura, e sim a forma com que Snyder costura os diversos elementos da história na tentativa de gerar algo novo.

A cada novo filme de Snyder, fica claro que storytelling não é um dos fortes do diretor e que 300 foi fruto de uma conjunção planetária que se repete a cada 100 anos no cinema, a qual misturou uma ótima história (que é praticamente o storyboard do filme) escrita por Frank Miller, um tema histórico fascinante e o estilo cinematográfico massa-veio de Snyder, que casou perfeitamente com a HQ.

O roteiro de Snyder, Kurt Johnstad (Atômica) e Shay Hatten (Exército de Ladrões: Invasão da Europa) é extremamente repetitivo e expositivo, descrevendo sentimentos e histórias ao invés de mostra-las. Além disso, é uma colagem de conceitos e soluções visuais de várias outras obras como a já citada Star Wars, Gladiador, Turok, Warhammer 40.000, Space Battleship Yamato, Vida de Inseto e muitas outras.

Após Kora eliminar sozinha (de forma pouco convincente e mal coreografada) um destacamento de soldados prestes a violentar uma aldeã, ela e o fazendeiro covarde Gunnar partem em busca de rebeldes para proteger o vilarejo que com certeza será dizimado quando as notícias chegarem ao Mundo-Mãe. A premissa em sí já é extremamente difícil de engolir uma vez que esse planeta é e sempre será, daqui por diante, um alvo permanente do Mundo-Mãe. Mesmo que Kora conseguisse derrubar uma das naves de guerra, muitas outras viriam em seu lugar.

Pouco tempo depois os dois partem em busca de informações para encontrarem um famoso ex-general chamado Titus. Ao chegarem na cidade portuária de Providencia, em Veldt, logo de cara o informante de Gunnar está sendo capturado por caçadores de recompensa para ser levado para interrogatório (a respeito dos rebeldes) por membros do Imperium. Cinco segundos depois, Kora está gritando em um bar ao lado, para quem quiser ouvir, se alguém sabe como encontrar o general Titus, um procurado do Imperium.

No bar, Kora conhece Kai, que aceita qualquer merreca para ajudá-la a encontrar Titus e ainda a ajuda, de graça, a encontrar alguns possíveis novos membros para seu grupo, todos procurados pelo Imperium. Nada suspeito.

Segue-se a essa sandice uma sucessão de: “Quer fazer parte do meu grupo de meia dúzia de sem noções, lutar contra o Imperium e muito provavelmente morrer por uma recompensa não especificada à receber futuramente?”. No que todos respondem: “Claro! Por que não?”.

Isso nos leva a Nemesis (Bae Donna), uma espadachim que não sabe como lutar com espadas, Titus (Djimon Hounsou), um general que não comanda ninguém, Tarak (Staz Nair), um guerreiro selvagem cuja única função é andar sem camisa e Darrian (Ray Fisher), um rebelde que comanda outra meia dúzia de pessoas e se sacrifica para deixar o comando dos rebeldes para sua irmã, afinal, só mulheres podem liderar em Hollywood hoje em dia.

Apesar de todos esses defeitos, o maior de todos é o fato de que Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo é mais uma obra marcada pelas as pautas sociais da atualidade, o que faz sentido uma vez que o filme foi criado com base em um roteiro originalmente feito para Star Wars (da Disney).

Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo possui vários tropos comuns dessas obras em sua estrutura, dentre os quais destacam-se as Mary Sues e as girlbosses. Cansativo.

Snyder ainda insere uma alegoria nada discreta, com um buraco de minhoca no formato de uma vagina se abrindo para a passagem de uma nave de guerra fálica com o texto: “No Mundo-Mãe, mil reis governaram incontestados em sucessão. Só que a sede de poder da linhagem real esgotou os recursos do planeta. Os exércitos do Reino marcharam na vastidão do espaço, conquistando tudo no caminho. (…)”

Nem mesmo os efeitos especiais do filme merecem qualquer menção honrosa, sendo genéricos, bregas ou mal feitos.

O longa de Zack Snyder é uma colcha de retalhos mal costurada, sem alma e impregnada de signos progressistas, sendo mais uma obra cinematográfica sacrificada no altar Woke.

Vocabulário
Mary Sue é um arquétipo de personagem na ficção, cujos traços referenciam a concepção de um personagem perfeito ou superidealizado. Narrativas com este tipo de personagens, geralmente, costumam supervalorizar sua importância no enredo, suas habilidades, aparência, intelecto e etc. O termo descreve personagens do sexo feminino que, por seu caráter idealizado, quase nunca possuem falhas e tendem a ser considerados chatos ou entediantes pelo público geral. Desta forma, é considerado um personagem que serve como uma espécie de autoinserção do próprio autor na obra. Em que o mesmo busca satisfazer suas fantasias ou desejos no contexto do enredo.
O termo mass-veio nasceu nos quadrinhos da década de 1990, que privilegiavam os desenhos em detrimento da história. Páginas duplas super coloridas com heróis saltando nas páginas como os produzidos por Jim Lee, Todd McFarlane, Rob Liefield, além dos quadrinhos posteriormente publicados pela Image Comics são grandes exemplos de quadrinhos massa-veio. A estética massa-veio pode ser exemplificada no cinema com os filmes de Zack Snyder, por exemplo.
Storytelling é a habilidade de contar histórias, utilizando elementos audiovisuais e textuais para transmitir uma mensagem com o objetivo de criar conexões emocionais com o público alvo e conduzir a história por meio de uma linha clara e coeza.
Tropo é uma palavra grega que, no sentido clássico, trata-se de uma figura de linguagem na qual ocorre uma mudança de significado (em pensamento ou palavra). Atualmente, Tropo foi redefinido na ficção contemporânea como um artifício ou ferramenta narrativa recorrente em um gênero ou uma obra, tanto literária quanto audiovisual.
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26/01/2024