Crítica: Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes

Filme estrelado por Chris Pine e Michelle Rodriguez entretém e diverte mesmo quem desconhece o universo do RPG

4/5
Oz
Data de publicação.
25/10/2023
8 min
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Opinião
Contém Spoiler

Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes (Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves) chegou às telonas em 2023 com uma missão relativamente difícil: traduzir uma jogatina de RPG para as telas do cinema. Baseado no universo criado para o famoso jogo Dungeons & Dragons, o longa não poderia errar.

Poucos diretores encarariam essa bucha, uma vez que o maior apelo dos jogos de RPG é dar ao jogador e ao mestre, o controle total da jornada, o que, em geral, é recheado de improvisações, bom-humor e situações inusitadas. Como o cinema não oferece essa opção ao telespectador, como chegar a um resultado satisfatório? Os diretores John Francis Daley (Quero Matar Meu Chefe) e Jonathan Goldstein (Homem-Aranha: De Volta ao Lar) mataram no peito e fizeram um golaço, ou melhor, tiraram 20 no D20 e conseguiram um dano crítico!

E não era para menos, em seu currículo, a dupla foi responsável pelo roteiro de Quero Matar Meu Chefe (Horrible Bosses, 2011) e pela direção de A Noite do Jogo (Game Night, 2018), filme estrelado por Jason Bateman (Ozark) e Rachel McAdams (Doutor Estranho), repleto de imprevistos, bom-humor, situações inusitadas e, principalmente, reviravoltas.

Pode-se inclusive atribuir alguma porcentagem desta dosagem perfeita entre humor, emoção e ação, à expertise do produtor Jeremy Latcham, que trabalhou em filmes como Homem de Ferro (Iron Man, 2008), Homem-Aranha: De Volta ao Lar (Spider-Man: Homecoming, 2017) e Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy, 2014).

O roteiro do live-action, sob os cuidados da dupla de roteiristas Chris McKay (A Guerra do Amanhã) e Michael Gilio (CSI: Nova Iorque) é simples, porém extremamente eficiente, traduzindo com perfeição uma típica campanha de RPG:

Um grupo de indivíduos de diferentes classes, com objetivos momentaneamente alinhados, se reúne para realizar uma missão. Nesse caso, o bardo Edgin (Chris Pine), a bárbara Holga (Michelle Rodriguez), o mago Simon (Justice Smith), a druidesa Doric (Sophia Lillis) e o paladino Xenk (Regé-Jean Page) se unem para enfrentar o ladrão Forge (Hugh Grant) e a feiticeira Sofina (Daisy Head).

Com o desenvolvimento da trama, os aventureiros descobrem a verdadeira história por trás da parceria entre Forge e Sofina, e decidem impedir a feiticeira de concretizar seus planos, que é transformar os cidadãos de Nevenunca em um exército de mortos vivos.

Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes traz consigo muitos recursos bem conhecidos dos jogadores de RPG, como as famosas sidequests, por exemplo. No filme, o grupo de aventureiros acaba tendo que interrogar alguns cadáveres com o uso da magia (no melhor estilo “Hellboy”), para descobrir o paradeiro do Elmo da Disjunção, perdido em uma guerra ocorrida nos Charcos Eternos entre a tribo de Holga e o Culto dos Dragões.

Essa cena é um grande exemplo da inventividade narrativa dos diretores, que percorre vários gêneros ao mesmo tempo: ação, humor e horror, sem dispersar a atenção do telespectador e sem causar estranheza.

O 3D é competente o suficiente para não tirar ninguém da imersão, e, misturado com os movimentos de câmera e as brincadeiras com pontos de vista e noção de espaço e tempo, torna-se um recurso muito bem utilizado por Daley e Goldstein.

O design de produção consegue construir com excelência esse mundo de fantasia até os mínimos detalhes. Além das inúmeras referências ao universo de Dungeons & Dragons e dos diversos easter eggs deixados “cá e lá” (pegaram?), detalhes quase imperceptíveis, em um primeiro momento, compõe a estética do longa.

Um desses detalhes, que pude reparar, diz respeito às tatuagens de Holga, que foram inspiradas nas tatuagens que adornam os restos mortais de múmias da Idade do Ferro (de um povo nômade hoje conhecido como Cultura Pazyryk), que foram encontradas em tumbas descobertas nas montanhas Altay, na Sibéria.

É muito esmero.

Se você nasceu nos anos 80, assim como eu, vai ter uma bela surpresa no terceiro ato da história. E aqui vai um grande SPOILER. Lembra da série animada Caverna do Dragão que passava no programa Xou da Xuxa da Rede Globo? Pois é, ela também é baseada no universo de Dungeons & Dragons. E por que você precisa saber disso? Porque os personagens (com exceção da Uni e do Mestre dos Magos) fazem uma ponta no filme, o que é bem legal. Seria melhor ainda se os dois grupos interagissem mais, com diálogos e ações coordenadas. Ainda assim o coração fica quentinho. 10 pontos pra Grifinória.

É claro, nenhuma obra audiovisual é imune a pequenos deslizes. Por exemplo, quando atacados pelo dragão obeso Themberchaud, a solução para a fuga do grupo pareceu pouco intuitiva, abrupta. Contrastando com a fluidez estabelecida pela narrativa. Nada que, no frigir dos ovos, tire o brilho de Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes.

Eu poderia passar horas falando sobre o longa, mas basta dizer que ao final da obra, tive a sensação de estar assistindo a um filme da “seção da tarde”: divertido, ingênuo, aventuresco e despretensioso.

Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes cumpre o que propõe: entretém e diverte tanto quem conhece e ama Dungeons & Dragons quanto quem desconhece o universo do famoso role-playing game.

Vocabulário
É qualquer coisa oculta, podendo ser encontrada em qualquer tipo de sistema virtual, incluindo músicas, filmes, videogames etc
Live-action é um termo utilizado no cinema, teatro e televisão para definir os trabalhos que são realizados por atores reais, de carne e osso, ao contrário das animações.
RPG significa “Role Playing Game” ou “Jogos de interpretações de papéis”. Na prática, o RPG proporciona ao jogador a possibilidade de tomar as decisões do protagonista. Ou seja, ele cria uma narrativa que inclui possibilidades em que você deve decidir através de ações ou diálogos. Esse estilo de jogo, faz com que o jogador se identifique com os personagens e por isso, tenha dúvidas sobre qual decisão tomar em algumas situações. Afinal, cada caminho escolhido pode mudar o destino da partida. Já no meio digital, um RPG é um gênero de jogo em que o jogador controla as ações de um ou mais personagens imersos num mundo bem definido, incorporando elementos dos RPGs tradicionais, compartilhando geralmente a mesma terminologia, ambientações e mecânicas de jogo. Outras similaridades com os RPGs de mesa incluem a ampla progressão de história e elementos narrativos, o desenvolvimento dos personagens do jogador, rigoroso sistema de regras, além de complexibilidade e elementos de imersão.
Significa missão ou busca secundária. Side quest é um termo comumente utilizado em jogos eletrônicos e jogos de RPG.
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26/01/2024