Crítica: Xógum: A Gloriosa Saga do Japão – 1ª temporada

Com atuações inspiradas, roteiro impecável e ambientação primorosa, Xógum figura no top 5 das melhores séries já produzidas pela humanidade

5/5
Oz
Data de publicação.
29/07/2024
15 min
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Opinião
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Xógum: A Gloriosa Saga do Japão (Shôgun) é uma série dramática de época com 10 episódios (1ª temporada) baseada no romance homônimo de James Clavell, publicado inicialmente em 1975. O romance de Clavel se tornou um best-seller com mais de seis milhões de cópias vendidas e atualmente também pode ser encontrado no Brasil publicado pela editora Arqueiro com 1040 páginas.

Disponibilizada inicialmente nos Estados Unidos pelo serviço de streaming Hulu e pelo canal FX, Xógum aportou em terras tupiniquins através das plataformas Star+ e Disney+ (hoje apenas Disney+, após a fusão das duas plataformas).

Apesar desta mais recente adaptação com Justin Marks como showrunner e co-criador ao lado de Rachel Kondo e com produção executiva de Michaela Clavell e Edward L. McDonnell, não é a primeira vez que o romance de Clavell desbrava outras mídias. Xógum ganhou uma adaptação em formato de minissérie com 5 episódios no ano de 1980 com Toshiro Mifune (Os Sete Samurais) como Toranaga, Richard Chamberlain (As Minas do Rei Salomão) como John Blackthorne e Yôko Shimada (Marcado para Morrer) no papel de Mariko.

Nesta nova versão, o elenco da série conta com Hiroyuki Sanada (O Último Samurai), Anna Sawai (Ninja Assassino), Cosmo Jarvis (Raised by Wolves), Tadanobu Asano (Thor), Takehiro Hira (Monarch: Legado de Monstros), Yuki Kura (Out), Moeka Hoshi (Dependence) e Shinnosuke Abe (13 Assassinos).

Xógum é ambientada no Japão feudal, especificamente ao final do Período Sengoku (1467-1600).

É importante mencionar, antes de entrar nos detalhes da história contada na 1ª temporada da série, que grande parte dos seus personagens são baseados em figuras históricas reais, porém renomeados, como no caso de Yoshii Toranaga (Tokugawa Ieyasu), Ishido Kazunari (Ishida Mitsunari), taikō (Toyotomi Hideyoshi) e Yaechiyo (Toyotomi Hideyori).

Antes de morrer, o taikō (título dado a um antigo kampaku, que era um conselheiro chefe do imperador e mais alto em posição do que o Xógum) estabeleceu um conselho de regentes para garantir a continuidade da paz no Japão e cuidar para que seu filho, o pequeno Yaechiyo (Sen Mars), chegasse à maioridade para poder governar o Japão.

Ishido Kazunari (Takehiro Hira), um ex-koshō (escudeiro de um senhor de guerra) e general do taikō e agora um dos membros do conselho de regentes, acusou Yoshii Toranaga (Hiroyuki Sanada) de se movimentar contra o próprio conselho ao qual faz parte, o que foi o estopim para a trama de Xógum.

Ishido, é claro, possui seus próprios planos, cujo sucesso depende da eliminação de possíveis inimigos, sendo o principal deles Toranaga.

Concomitantemente, um misterioso navio mercante holandês chamado Erasmus é encontrado encalhado em uma aldeia de pescadores chamada Ajiro com uma tripulação de 12 marinheiros protestantes ingleses. Dentre esses marinheiros, encontra-se o piloto da embarcação, o inglês John Blackthorne (Cosmo Jarvis), que acaba sendo chamado para prestar esclarecimentos ao senhor de Izu, Kashigi Yabushige (Tadanobu Asano), um dos personagens mais interessantes da série.

Toranaga, preso em Osaka como refém até cumprir algumas exigências feitas por Ishido, e plenamente ciente de que Ishido não pretende deixá-lo sair vivo de lá, envia Toda Hiromatsu (Tokuma Nishioka), um de seus mais estimados e antigos servos, para supervisionar a situação gerada com a chegada do navio Erasmus em Ajiro, que pode oferecer alguma vantagem estratégica a Toranaga.

É somente quando Blackthorne se encontra com Toranaga que a história começa a ficar interessante de fato. Somos apresentados a Mariko (Anna Sawai), uma leal vassala de Toranaga com uma história pregressa de sofrimento.

Nesse estágio da história, já começa a ficar claro para nós telespectadores através de algumas situações apresentadas, que o modo como os japoneses dessa época encaravam a vida e a morte não fazem muito sentido para nossa moderna civilização ocidental. E isso é uma tônica da série, gerando situações e reviravoltas surpreendentes.

Não apenas isso, há também uma relação delicada entre a honra e a ambição, onde indivíduos podem levar a lealdade até as últimas consequências bem como usar a vida de outro ser humano como um degrau a fim de cimentar o caminho para o topo.

Nenhum acontecimento é descartado, nenhum movimento desperdiçado. Toranaga demonstra ser um exímio estrategista, com uma visão aguçada mesmo quando nós, os telespectadores, bem como seus próprios vassalos, não conseguimos enxergar um palmo à frente.

E essa á uma das características mais marcantes de Xógum.

A escalação da série é perfeita, todos os atores possuem seu espaço, mas dentre estes existem ainda aqueles que brilham cima dos demais. Anna Sawai como Mariko, Tadanobu Asano como Yabushige,  Tokuma Nishioka como Hiromatsu, Moeka Hoshi como Usami Fuji e Nestor Carbonell como Rodriques são dignos de nota, transbordando autenticidade em suas atuações, Algo difícil de se encontrar em Hollywood.

Não apenas isso, a série possui uma ambientação belíssima, as construções, as vestimentas, os props, os costumes, o vocabulário e o CGI. Absolutamente TUDO em Xógum é pensado e executado com primor.

Olhos treinados podem até reparar, em alguns raros momentos, uma diferença de iluminação entre fundo e primeiro plano, evidenciando o uso de tela verde, mas nada que prejudique o resultado final da série.

Aliás, é importante falar sobre a forma visceral com que as mortes são apresentadas na série. Sempre de forma brutal, abrupta e com muito, muito sangue. Parece óbvio, mas se analisarmos filmes como Duna (Dune: Part One, 2021) e Duna: Parte 2 (Dune: Part Two), de Denis Villeneuve, onde batalhas épicas acontecem sob as areais do deserto de Arakis, nenhuma gota de sangue ou suor é derramada, o que soa como algo desprovido de verossimilhança devido ao contexto.

Após o sucesso da 1ª temporada, o serviço de streaming Hulu e o canal FX confirmaram a renovação da série para um segundo e um terceiro ano. As novas temporadas porém irão extrapolar a obra de Clavell, uma vez que o autor não escreveu uma continuação para seu best-seller.

A 1ª temporada de Xógum: A Gloriosa Saga do Japão divide, juntamente com a 2ª temporada de A Casa do Dragão, o posto de melhor série de 2024 e é, com certeza, uma produção que figura no top 5 das melhores série já produzidas pela humanidade.

Vocabulário
Significa mais vendido, em inglês. É um livro considerado extremamente popular entre os leitores e que geralmente estão inseridos em listas de mais vendidos de jornais e revistas especializadas.
CGI é uma sigla em inglês para o termo Computer Graphic Imagery, ou seja, imagens geradas por computador. É a famosa computação gráfica. O termo se refere às imagens, geradas em computadores, que têm três dimensões e profundidade de campo.
É um objeto usado em um palco ou cena por atores durante sua atuação. Em termos práticos, um prop é considerado qualquer objeto móvel ou portátil dentro de em um palco ou cenário.
Showrunner é o responsável pela condução de uma série. O showrunner é responsável por todos os aspectos inerentes a uma produção televisiva, incluindo a escolha de diretor, elenco, roteirista, etc. Suas escolhas dão coerência e ditam o tom da produção. Ao contrário do cinema, onde o diretor é a pessoa quem manda, na TV é o showrunner que tem todo o poder de decisão criativa e gerencial.
Streaming é a tecnologia de transmissão de dados pela internet, principalmente áudio e vídeo, sem a necessidade de baixar o conteúdo. O arquivo, que pode ser um vídeo ou uma música, é acessado pelo usuário de forma online. O termo streaming também pode ser utilizado com o significado de “plataforma de streaming”.
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29/07/2024