Crítica: Sweet Tooth 2ª temporada

Segunda temporada da série não consegue balancear trama pesada com temática infantil

2/5
Oz
Data de publicação.
09/05/2023
3 min
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Opinião
Contém Spoiler

Sweet Tooth é uma série da Netflix baseada nos quadrinhos de Jeff Lemire publicados pela DC Comics.

A série acompanha as aventuras de Gus, uma criança hibrida que vive em um mundo pós apocalíptico onde uma doença desconhecida eliminou 98% da população. Além disso, todas as crianças passaram a nascer com características animais. Dessa forma, sua espécie passa a ser caçada e muitas vezes submetida a experimentos científicos.

Criada por Jim Mickle (Sombra Lunar), a 1ª temporada da série foi lançada em junho de 2021 e obteve grande sucesso de público e crítica, sendo renovada para a segunda temporada no mês seguinte.

A 2ª temporada foi lançada em abril de 2023, dois anos depois do lançamento da série. Esse, ao meu ver, foi o principal responsável pelo resfriamento do hype em torno da produção, que estreou timidamente na plataforma.

Ao mesmo tempo, a 2ª temporada tentou manter o clima infantil da primeira, o que se mostrou um grande erro por parte do criador e principalmente por parte dos roteiristas, isso porque a primeira temporada é de fato mais leve, o que não é uma verdade no caso da segunda temporada, que aborda assuntos pesadíssimos como massacres, cárcere e assassinato de crianças em nome da ciência, fratricídio, sacrifícios pessoais, redenção e a dor da perda de entes queridos.

Essa tentativa de manter o clima infantil diante de tantas situações difíceis e pesadas comprometeu gravemente o tom da série, que foi na contramão de Stranger Things, por exemplo, outra série infantil da plataforma. Stranger Things soube ajustar seu tom de acordo com o desenvolvimento dos personagens e da trama, tornando-se mais sombria e tensa, mas mantendo ainda as características que fizeram dela um grande sucesso.

O Labirinto do Fauno (El laberinto del fauno, 2006) de Guillermo del Toro é outro grande exemplo de uma obra que soube misturar a temática infantil com o gênero de terror.

Além disso, é algo recorrente na temporada personagens adultos tomando decisões incoerentes e irracionais, criando planos insipientes e desastrosos, escapando de situações impossíveis e colocando crianças em risco desnecessariamente.

Um grande exemplo disso é a deixa para a 3ª temporada, na qual Tommy Jepperd, interpretado por Nonso Anozie, conduzirá 3 crianças até o Alasca sem equipamentos, alimentos e transporte. Além disso, o personagem ainda correrá o risco de ser infectado pelo vírus durante o percurso, o que deixaria as crianças sozinhas e desprotegidas em um ambiente inóspito.

Preciso destacar as atuações de três atores na temporada. Dois desses destaques são negativos. Neil Sandilands, o General Abbot, entrega uma atuação extremamente caricata e superficial. Já Dania Ramirez não se mostrou inspirada em nenhum momento ao interpretar Aimee Eden, entregando um trabalho isento de qualquer qualidade mensurável. Stefania LaVie Owen, por outro lado, se destacou positivamente, conseguindo se sobressair em alguns poucos momentos.

Gus (Christian Convery), o protagonista da série, tem menos destaque na temporada, enquanto o detestável Dr. Aditya Singh (Adeel Akhtar) ganha um tempo de tela considerável com seu enfadonho arco de personagem.

Os problemas da temporada passam invariavelmente pelas mãos dos 8 roteiristas da série (Jim Mickle, Carly Woodworth, Oanh Ly, Noah Griffith, Daniel Stewart, Zaike LaPorte Airey, Bo Yeon Kim e Erika Lippoldt) e do showrunner, Jim Mickle, que optaram por infantilizar situações graves em um mundo pós apocalíptico moribundo e destacar personagens e plots secundários em detrimento do personagem e do plot principal.

Sweet Tooth foi renovada para a 3ª e última temporada, mas temo que a fofura de Gus e seus amigos não seja o suficiente para atrair mais uma vez os olhares curiosos e apaixonados dos outrora fãs dessa promissora série.

Vocabulário
Hype é a promoção extrema de uma pessoa, ideia, produto, que geralmente dura por um pequeno espaço de tempo. É o assunto que está “dando o que falar” ou algo sobre o qual todos falam e comentam – o que está na moda. A palavra deriva de hipérbole, figura de linguagem que representa o exagero de algo ou uma estratégia para enfatizar alguma coisa. O fenômeno do hype (engajamento/motivação/excitação) está relacionado ao hiperconsumismo e de técnicas de manipulação midiática e sobrevalorização artificial de produtos ou ativos através dessas mesmas ténicas.
Showrunner é o responsável pela condução de uma série. O showrunner é responsável por todos os aspectos inerentes a uma produção televisiva, incluindo a escolha de diretor, elenco, roteirista, etc. Suas escolhas dão coerência e ditam o tom da produção. Ao contrário do cinema, onde o diretor é a pessoa quem manda, na TV é o showrunner que tem todo o poder de decisão criativa e gerencial.
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03/01/2024