Crítica: Invasão Secreta – 1ª temporada

Série de Samuel L. Jackson mantém baixo padrão de qualidade estabelecido a partir da 4ª fase do MCU

1/5
Oz
Data de publicação.
31/07/2023
12 min
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Opinião
Contém Spoiler

Chegamos ao fim da primeira temporada de Invasão Secreta (Secret Invasion, 2023), série da Marvel Studios protagonizada por Samuel L. Jackson (Corpo Fechado) e disponível no Disney+.

Além de Jackson, Emilia Clarke (Game of Thrones), Don Cheadle (Onze Homens e um Segredo), Kingsley Ben-Adir (Rei Arthur: A Lenda da Espada), Ben Mendelsohn (Rogue One: Uma História Star Wars), Olivia Colman (The Crown) e Cobie Smulders (How I Met Your Mother) completaram o elenco de grandes estrelas de Invasão Secreta.

A série, criada por Ali Selim (Mentes Criminosas), é levemente inspirada no arco de história em quadrinhos Secret Invasion, escrito por Brian Michael Bendis e desenhado por Leinil Francis Yu.

Invasão Secreta foi vendida como um grande thriller de espionagem – que iria inserir esse gênero ainda não explorado no MCU, trazendo um certo frescor aos filmes de super-herói da Marvel no cinema, e, nesse intento, não obteve êxito.

Eram grandes as expectativas, ainda mais após a sucessão de projetos medíocres que o MCU apresentou após a Vingadores: Ultimato (Avengers: Endgame, 2019). Com 6 episódios, a série da Marvel apresentou uma história frustrantemente simples, curta, com pouca ou nenhuma tensão, espionagem, suspense e, infelizmente, relevância.

Em relação ao elenco da série, um dos poucos pontos positivos da produção foi a escalação de Olivia Colman no papel de Sonya Falsworth. Com pouco tempo de tela, Colman soube aproveitar suas poucas linhas de texto para criar uma personagem interessante, espirituosa e pragmática.

Os demais atores, por mais qualificados que fossem – como Ben Mendelsohn e Kingsley Ben-Adir, por exemplo – se viram reféns de um roteiro insatisfatório escrito por Kyle Bradstreet (Mr. Robot: Sociedade Hacker).

É desolador acompanhar as atuações de Samuel L. Jackson e Emilia Clarke durante a série. Jackson está, como sempre, no automático e cansado. É igualmente cansativo ter que acompanhar a história através de seu prisma. Clarke se beneficiou muito do material escrito por George R. R. Martin para sua personagem Daenerys Targaryen de Game of Thrones. O desenvolvimento de sua personagem em Game of Thrones e seu carisma pessoal acabaram mascarando a evidente falta de recursos da atriz. O roteiro de Bradstreet bem como a direção de Selim a deixou completamente exposta.

Mesmo atores medianos podem apresentar resultados satisfatórios quando blindados por um roteiro e uma direção competentes. Infelizmente, Selim e Bradstreet realizaram um trabalho lamentável em Invasão Secreta.

Segundo a Forbes, Invasão Secreta teve um orçamento de 212 milhões de dólares. Apesar disso, não foi possível sentir nenhum valor de produção nas telas. O orçamento alto não se justifica nem mesmo na batalha final de CGI, que lembra muito as batalhas finais terríveis de quase todos os filmes da DC.

Antes de prosseguir, gostaria de reforçar que meu trabalho, aqui, é avaliar essa obra em particular de forma empírica, o que consequentemente envolve evidenciar seus erros e acertos, e, invariavelmente, seus responsáveis. Dito isso, é chegado o momento de falar especificamente dos problemas de roteiro de Invasão Secreta.

É possível afirmar categoricamente que o roteiro de Kyle Bradstreet provou ser um dos piores roteiros que o MCU já apresentou até o momento, figurando em um top 5 da sofrência juntamente com obras como Mulher-Hulk: Defensora de Heróis (She-Hulk: Attorney at Law), Gavião Arqueiro (Hawkeye), Cavaleiro da Lua (Moon Knight) e Homem-formiga e a Vespa: Quantumania (Ant-Man and the Wasp: Quantumania).

Trago fatos.

Na história de Invasão Secreta, Nick Fury faz um acordo com os Skrulls, uma raça de alienígenas refugiada após uma guerra duradoura com outra raça alienígena, os Krees. Nesse acordo, Fury promete encontrar um planeta para os Skrulls em troca de ajuda. Passam-se mais de 30 anos e nada acontece. Nesse interim Fury foi estalado por Thanos, blipado por Hulk e recentemente estava de volta à Terra, mais especificamente na estação espacial S.A.B.E.R.. A falta de comprometimento de Fury com sua promessa gerou insatisfação entre os Skrulls, o que quase levou o planeta ao holocausto nuclear.

Como podemos passar pano para uma série baseada em um plot que pode ser facilmente refutado pelos próprios filmes do MCU?

Ora, não foi em Vingadores: Ultimato (Avengers Endgame, 2019) e Thor: Amor e Trovão (Thor: Love and Thunder, 2022) que fomos apresentados a Nova Asgard? Um porto seguro para os asgardianos na Terra localizado na cidade de Tonsberg, na Noruega?

Será mesmo que Nick Fury não poderia criar um outro porto seguro para os Skrulls, mesmo que temporário, na Terra?

Além disso, eu, que não sou roteirista profissional, consigo citar pelo menos 6 planetas (comprovadamente ou supostamente inabitados e com atmosfera respirável) que os Skrulls poderiam habitar facilmente:

  • O Jardim / 0259-S: Planeta inabitado em que Thanos vai curtir sua aposentadoria após estalar os dedos;
  • Titã: Lua de origem de Thanos;
  • Vormir: Planeta que abrigava a joia da alma;
  • Morag / M31V J00443799+4129236: Planeta que abrigava a joia do poder;
  • Svartálfheim / Harudheen / The Dark World: Planeta dos extintos Elfos Negros que orbita um buraco negro.
  • Berhert / M20 22A4834126+306CA12: Planeta em que os Guardiões da Galáxia encontram pela primeira vez Ego e Mantis.

Bradstreet aparentemente não se deu o trabalho de fazer sua lição de casa. Difícil é acreditar que Kevin Feige, atual presidente do Marvel Studios, aprovou o roteiro da série sem ao menos questionar esse ponto fundamental da trama.

O plano de Gravik é criar um conflito entre EUA e Russia com o intuito de criar uma guerra nuclear, o que não seria um problema para os Skrulls, que são imunes à radiação.

Os Skrulls podem ser imunes a radiação, mas não são imunes a explosões nucleares.

De acordo com o Stockholm International Peace Research Institute e o Departamento de Estado dos EUA (dados de fevereiro de 2022), os EUA possuem 5.550 ogivas nucleares e a Russia possui 5.977 ogivas nucleares no total. Juntas, as potências concentram 89,7% do arsenal nuclear mundial. Isso sem mencionar seus parceiros, como por exemplo o Reino Unido (225), a França (290), a China (350) e vários outros.

Uma guerra nuclear entre essas potências, hoje em dia, significaria o fim do planeta e da vida como a conhecemos, uma vez que além das explosões, da contaminação nuclear e da chuva radioativa, que exterminaria provavelmente toda a vida animal do planeta, outros eventos como erupções vulcânicas, movimentos de placas tectônicas e tsunamis poderiam acontecer em decorrência das múltiplas explosões atômicas, o que inviabilizaria o plano de Gravik no final das contas.

Além disso, os Skrulls já possuiam membros infiltrados em várias posições de poder dos EUA, não seria mais fácil se infiltrar também nos governos inimigos dos EUA e resolver a situação diplomaticamente?

Outro erro grave do roteiro é o fato de que a trama da série não leva a lugar algum.

Nick Fury começa a série na estação espacial S.A.B.E.R. com os Skrulls se rebelando na Terra, contrariados com a postura subserviente de Talos, que mesmo após 30 anos ainda trabalhava para Fury com a esperança do cumprimento de seu acordo. Ao final da produção, Fury retorna à estação espacial S.A.B.E.R. mesmo sabendo que os Skrulls agora estão sendo perseguidos e mortos pelo governo dos EUA e G’iah, filha de Talos e contrária a sua postura, aceita fazer a mesma coisa que seu pai, só que dessa vez trabalhando para Sonya Falsworth.

Lembrando que G’iah agora é o ser mais poderoso do MCU, acumulando poderes de vários personagens, tais como:

  • Abominável;
  • Capitã Marvel;
  • Capitão América;
  • Chitauri;
  • Corvus Glaive (Vingadores: Guerra Infinita);
  • Cull Obsidian (Vingadores: Guerra Infinita);
  • Drax;
  • Ebony Maw (Vingadores: Guerra Infinita);
  • Fantasma (Homem-Formiga e a Vespa);
  • Frost Beast (Thor: O Mundo Sombrio);
  • Gamora;
  • Groot;
  • Hulk;
  • Korg;
  • Mantis;
  • Outrider (servos do Thanos);
  • Pantera Negra;
  • Proxima Midnight (Vingadores: Guerra Infinita);
  • Soldado Invernal;
  • Thanos;
  • Thor;
  • Valquíria.

Seria ela poderosa o suficiente para buscar um planeta para sua própria raça? Imagino que sim. Aliás, com isso a Marvel arranjou mais um problema para seus futuros projetos assim como foi com a Capitã Marvel, que de tão poderosa acabou sendo “esquecida” em diversos filmes para não desequilibrar os conflitos.

Fury constrói sua carreira usando os Skrulls como força de trabalho devido a seus poderes metamórficos. Utilizando-os (sob a liderança de Gravik) inclusive para coletar o DNA dos super humanos nas batalhas ocorridas no decorrer do MCU, evento que ficou conhecido como Colheita. Com esse conhecimento, Gravik chantageia Fury em troca da Colheita.

Porém, no decorrer da série, vemos que o próprio Fury utiliza uma versão antiga do Véu da Viúva, uma máscara tecnológica que altera seu rosto. Na mesma cena ainda é mencionado que uma nova versão da tecnologia pode alterar o corpo inteiro.

Really? É o roteiro trabalhando ativamente para se auto boicotar.

Como se não bastasse, Fury entrega a Colheita para Gravik, em um plano falho que acaba transformando Gravik e G’iah em super Skrulls. Veja, poucos episódios atrás, G’iah estava do lado de Gravik, como Fury poderia saber que ela não se voltaria contra ele? Ou mesmo que ela iria ganhar a batalha final contra Gravik? Nunca saberemos.

Existem vários e vários outros momentos vergonhosos na trama de Invasão Secreta que eu poderia listar, mas prefiro me abster, afinal, a essa altura do campeonato, qualquer crítica adicional é o equivalente a chutar cachorro morto.

Chego ao final dessa análise exausto e frustrado, assim como quando terminei de assistir o último episódio da série.

Invasão Secreta é uma série fraca, dispensável, desinteressante, mal escrita, mal produzida, mal dirigida e mal atuada cujo único mérito é ser mais uma produção medíocre dentre as várias outras mais recentes do MCU.

Vocabulário
CGI é uma sigla em inglês para o termo Computer Graphic Imagery, ou seja, imagens geradas por computador. É a famosa computação gráfica. O termo se refere às imagens, geradas em computadores, que têm três dimensões e profundidade de campo.
Plot significa enredo ou trama da história, apresentando começo, meio e fim, dentro de um filme, livro, série, HQ, teatro, etc. Um plot é o eixo central da história e pode ser definido como os conflitos que os personagens vivenciam durante a história, de acordo com as suas escolhas e desejos.
Thriller ou suspense é um gênero da literatura, filmes, jogos eletrônicos e televisão, que usa suspense, tensão e excitação como principais elementos.
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03/01/2024